Qualquer pessoa que faz crochê sabe a importância de ir apertando os laços da peça tecida. Além de dar forma à linha e vestir pessoas ou objetos, gosto de relacionar essa atividade ao exercício de convivência.
O crochê, para mim, é um momento de contemplação, de autoconhecimento, de percepção de como me relaciono comigo e com os demais. Nesse emaranhado de linhas e agulhas, unindo ponto a ponto, é que me (re)conheço. É como (re)escrever, desenhar. Um constante desvendar que vai tomando forma ao desenrolar o novelo.
Por falar nisso, antes de tudo, é importante identificar onde está o fio a ser puxado para a primeira laçada. Se a gente não puxá-lo corretamente, ele pode embaraçar e impossibilitar a construção da trança.
Então começo. Penso um pouco, faço um elo, penso, faço uma corrente… Vou ligando pontos, construindo links, conexões. O importante é não deixar dar nó… Esses, quer sejam na linha ou na mente, pedem destreza para desatá-los. Quando surgem enfeiam a peça, obstruem os espaços da corrente, por onde a agulha precisa fluir sem bloqueios. É como se comunicar: se a mensagem encontrar um obstáculo no canal transmissor, causará ruído.
Apertando os laços
Da mesma forma, é fundamental ter cuidado ao apertar as laçadas. Se forte, deforma o ponto. Se fraco, afrouxa os elos, comprometendo o todo. Em outras palavras, o equilíbrio na união dos pontos é tudo. Por isso, todo o cuidado é pouco. Ás vezes, pode surgir um nó impossível de desfazer. Consequentemente, a escolha é inevitável. Ou corta-se as pontas e segue em frente; uma vez que, com o entrelaçar de novos elos, ele será absorvido pela cooperação e suporte de outros pontos. Por outro lado, rompe-se a linha interrompendo o fluxo; assim, uma nova ponta religará o tecido e o novelo, proporcionando uma abordagem renovada ao processo.
Tudo é decisão. Tudo é cooperação! Linha e agulha dançam juntas, precisam colaborar em leveza e movimento e entrelaçarem-se originando um novo ponto, preso a cada laçada. O meio colaborando com o fim.
Como está a sua colcha?
É como viver! Entendo a vida como uma longa e inacabada colcha de crochê, na qual a linha e agulha estão em nossas mãos. Tecendo elos o tempo todo, formando correntes, atando, desatando, ajustando os pontos dos “is”.
E, nesse constante tecer, o que mais importa é que saibamos ser colaboradores, parceiros, entre si, como membros de um só corpo, no qual o ponto mais simples (o primeiro elo que forma a corrente do crochê) é o passo fundamental para construir e dar sustentação a mais bela trama: a arte de se relacionar.
A respeito disso, que esse cuidado em puxar o primeiro fio parta de cada um de nós. Quer seja um sorriso de apoio, um abraço ou uma palavra de motivação, que comece por nós o zelo para que o resultado da tessitura demonstre a harmonia e colaboração entre as partes envolvidas em cada laçada.
Estamos às portas do final do ano, olhe para ele como quem contempla uma grande colcha de crochê. O que você vê? Como estão os seus pontos: bem estruturados ou frouxos? Precisam de algum ajuste? Reflita sobre isso, ainda dá tempo!